O Alentejo rural da década de 60 do séc. XX por José Cutileiro
Conferência Ricos e Pobres no Alentejo e novas antropologias
O Alentejo rural da década de 60 do séc. XX por José Cutileiro
A Fundação Eugénio de Almeida e a Direção Regional da Cultura do Alentejo promovem, no próximo dia 04 de junho, pelas 18h00, no Fórum Eugénio de Almeida, a conferência do Embaixador José Cutileiro Ricos e Pobres no Alentejo e novas antropologias, que assinala cerca de cinco décadas sob o seu estudo antropológico a uma freguesia rural do Alentejo.
Editada pela primeira vez em 1971, pela universidade de Oxford, sob o título A Portuguese Rural Society, datando a sua edição portuguesa de 1977, a obra é um retrato do Alentejo rural, das suas estruturas sociais e das suas crenças, resultado de um trabalho de investigação realizado durante a década de 60 do séc. XX.
Ricos e Pobres no Alentejo é considerado um clássico da antropologia portuguesa e europeia dos anos 70 do século XX, pela forma como retrata o Portugal mediterrânico de então, centrado na geografia humana e com uma intenção de realismo ao mostrar um mundo dramaticamente desigual, o que tornou a sua publicação possível somente após o 25 de abril.
O trabalho de pesquisa de José Cutileiro, embora centrado numa aldeia no concelho de Mourão, que o autor denominou de Vila Velha, deu uma atenção particular ao contexto político e social do país que vivia então sob um regime ditatorial fortemente ligado aos interesses económicos e políticos dos grandes terratenentes alentejanos.
Na sua monografia, o escritor assinala a importância decisiva de que tradicionalmente a posse das terras se revestia e descreve o seu declínio.
Identificando a estratificação social - riqueza extrema versus pobreza extrema -, Cutileiro retrata de forma contundente o estilo de vida dos proprietários rurais e a forma como usavam relações formais e informais com o poder político para fortalecer a sua posição. Um relato crítico sobre o Portugal desse tempo, em que são destacados temas como a injusta distribuição de riqueza dominante no país; as precárias condições laborais dos trabalhadores rurais; a opressão social e a repressão política dos pobres.
Ricos e Pobres no Alentejo é, ainda hoje, uma referência para todos os estudos sobre estratificação social e desigualdade.
José Cutileiro
Doutor em Antropologia Social pela Universidade de Oxford, é uma das maiores referências portuguesas em análise de política internacional e Conselheiro Especial do Presidente da Comissão Europeia. Foi Representante da Comissão de Direitos do Homem da ONU para a Jugoslávia e a Bósnia-Herzegovina (2001-2003), Secretário-Geral da União da Europa Ocidental, à época a única organização europeia de defesa, (1994-1999) e Coordenador da Conferência Europeia de Paz para a Jugoslávia, presidida por Lord Carrington (1992).
No serviço diplomático português, serviu como Diretor Geral Político no Ministério dos Negócios Estrangeiros (1986-1988), representante permanente no Conselho da Europa (1977-1980), embaixador em Maputo (1980-1983) e em Pretória (1989-1991), chefe da delegação portuguesa à Conferência de Desarmamento de Estocolmo (1984-1986) e o primeiro presidente do Instituto Diplomático (1994).
Frequentou os cursos de Arquitetura e Medicina, na Universidade Técnica de Lisboa e na Universidade Clássica, respetivamente, tendo-se licenciado em Antropologia Social na Universidade de Oxford. Obteve, em 1968, o grau de Doutor, ingressando no St. Antony's College, como Fellow (1968-1971), passando depois para a London School of Economics and Political Science, como Lecture (1971 – 1974).
Publicou A Portuguese Rural Society, Oxford, 1971, tradução portuguesa - Ricos e Pobres no Alentejo - Lisboa, 1977; Vida e Morte dos Outros - A comunidade internacional e o fim da Jugoslávia, Lisboa, 2003, e numerosos artigos em jornais e revistas.
Partilhar conteúdo: