A primeira imagem da escola primária moderna na Provedoria de José Maria Eugénio de Almeida na Casa Pia de Lisboa
A Fundação Eugénio de Almeida organiza, no próximo dia 17 de setembro, às 18h00, no Palácio de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa, a conferência A reforma dos estudos da Casa Pia de Lisboa na provedoria de José Maria Eugénio de Almeida: primeira imagem da escola primária moderna. A iniciativa propõe dar a conhecer a intervenção pública de José Maria Eugénio de Almeida enquanto Provedor da Casa Pia de Lisboa, e a profunda reforma do programa de estudos que introduziu na década de 1860, que representa, ainda hoje, segundo Carlos Manique da Silva, investigador e orador da conferência, um “marco educativo profundamente inovador” e a “primeira imagem da escola primária moderna”.
José Maria Eugénio de Almeida foi escolhido por Fontes Pereira de Melo para Provedor da Casa Pia de Lisboa, a 10 de Outubro de 1859. Contava 47 anos. Possuía já uma vasta experiência de cargos públicos, era um hábil gestor e um dos homens mais ricos de Portugal. A instituição que foi dirigir atravessava, então, um período particularmente difícil, necessitando de profundas e urgentes reformas quer no seu funcionamento, quer nas degradadas instalações do Mosteiro dos Jerónimos, onde estava sediada. A estas tarefas José Maria dedicou-se com empenho, resultando o seu trabalho numa série de medidas das quais se destacam, entre outras, a modernização dos métodos de ensino e dos currículos, a renovação do corpo docente, e as obras de restauro e beneficiação do edifício da Instituição que patrocinou e dirigiu durante mais de uma década.
As razões por que aceitou abraçar este projeto social e educativo foram explicadas pelo próprio, ao referir, “(…) havendo terminado com felicidade a carreira que me propus correr, e gozando do ócio tranquilo e cómodo, não devia escutar os conselhos do egoísmo preguiçoso e recusar-me ao serviço público. (…) Confiei também em que Deus fará soar cedo entre nós a hora de começarem os trabalhos de uma grande obra de reforma, para não ouvirmos soar a última hora da vida desta nação, e estimei que me fosse dado ir, no entretanto, aparelhando como humilde operário, uma pequena pedra, que talvez pudesse mais tarde achar lugar na construção dessa obra.”
A par da relevante intervenção pública que protagonizou como Deputado, Par do Reino, Conselheiro de Estado e Provedor da Casa Pia de Lisboa, José Maria Eugénio de Almeida (1811-1872) foi também responsável pela acumulação de um vasto património cujo valor o colocou entre as personalidades mais abastadas do país e que, um século depois, serviu de base à ação mecenática e filantrópica levada a efeito pelo bisneto, Vasco Maria Eugénio de Almeida, a quem se ficou a dever, em 1963, a criação da Fundação Eugénio de Almeida. Da ordem de grandeza do “Império” construído por José Maria Eugénio de Almeida são representativas algumas propriedades emblemáticas da família em Lisboa, como o Casal de Monte Almeida (atual Parque Eduardo VII) ou o Parque de Santa Gertrudes (onde está hoje sedeada a Fundação Calouste Gulbenkian).
A conferência será proferida por Carlos Manique da Silva, investigador do Instituto de Educação da universidade de Lisboa e autor do artigo “As Reformas do Ensino na Casa Pia de Lisboa ou a Primeira Imagem da Escola Primária Moderna (Anos de 1860-1870)”.
José Maria Eugénio de Almeida
Nascido em 1811, José Maria Eugénio de Almeida realizou os seus primeiros estudos na escola de S. Vicente de Fora, em Lisboa. Em 1834 matriculou-se em Direito, na Universidade de Coimbra, curso que concluiu em 1839 com distinção. Dos tempos de Coimbra conservou para a vida várias amizades, uma delas com José Maria Almeida Teixeira de Queirós, pai de Eça de Queirós. No mesmo ano em que concluiu o curso, candidata-se à regência da cadeira de Economia Política, Direito Administrativo e Comercial da Escola Politécnica de Lisboa. Apesar do brilhantismo das provas prestadas para o efeito, assinalado na imprensa da época, a cadeira foi atribuída ao seu oponente, José Estêvão Coelho de Magalhães. Não se sabe o que teria acontecido se José Maria Eugénio de Almeida tivesse seguido a carreira académica, mas o revés poderá ter contribuído para o lançar de forma decisiva no universo dos negócios onde teve oportunidade de se aplicar ao estudo dos diferentes assuntos e atividades em que se envolveu, instruindo assim a sua vocação de homem empreendedor. Na biografia que escreveu sobre José Maria Eugénio de Almeida, José Miguel Sardica afirma que “ninguém o ensinou a ser assim, na medida em que não há métodos preestabelecidos para se chegar a milionário. (…) Na história empresarial e económica de Eugénio de Almeida houve (…) um misto de capacidade pessoal, de engodo pelo trabalho, de intuição de vantagens futuras, de antecipação de contrariedades, de sorte, de acaso e de saber de experiências feito. Foi com tudo isto que ele montou e consolidou o seu sistema: uma administração geral de negócios segura (…)”.
Partilhar conteúdo: