Maria Teresa Eugénio de Almeida
(1921-2017)
Maria Teresa Burnay de Almeida Bello Eugénio de Almeida nasceu no dia 16 de setembro de 1921, na Casa de Massarelos, em Caxias, Freguesia de Paço de Arcos, Concelho de Oeiras. Era filha de Manuel de Almeida Bello e de Maria Isabel Ortigão Burnay. O pai, Engenheiro dos Caminhos de Ferro de Portugal, foi responsável pela eletrificação da linha Lisboa-Cascais. A mãe era neta do cronista e romancista português, Ramalho Ortigão, o que proporcionou à jovem Maria Teresa oportunidades de acesso à cultura, tornando-se uma leitora assídua dos clássicos e de obras de referência nas quais procurou saciar a enorme curiosidade sobre os temas do seu tempo.
A sua vida ficou marcada pelo casamento em 1948 com Vasco Maria Eugénio de Almeida, Conde de Vill’Alva. Oriundo de uma das mais poderosas e influentes famílias do século XIX em Portugal, Vasco Maria destacou-se por uma notável obra mecenática e filantrópica que desenvolveu em Lisboa e sobretudo em Évora, onde se concentrava uma parte significativa do seu património fundiário, cidade com a qual o nome Eugénio de Almeida desenvolveu profundos laços de afetividade ao longo de sucessivas gerações.
Entre 1948 e 1975 Maria Teresa Burnay de Almeida Bello acompanhou de forma dedicada, próxima e atenta a intervenção levada a cabo pelo marido em Évora no âmbito da cultura, da assistência e da educação, de que se destaca, entre muitas outras obras, a criação do Instituto Superior Económico e Social (que representou o regresso do Ensino Superior à cidade após a extinção da Universidade no século XVIII na sequência da expulsão do Jesuítas), o restauro e reativação do Convento da Cartuxa, o impulso para a construção do Hospital do Patrocínio, vocacionado para o tratamento de doenças do foro oncológico ou a intervenção de conservação e restauro do Paço de São Miguel localizado no antigo Castelo de Évora.
De todos os projetos desenvolvidos por Vasco Maria, o de maior alcance foi a criação em 1963 da Fundação Eugénio de Almeida que instituiu com a missão de promover o desenvolvimento cultural, educativo, social e espiritual de Évora e da sua região. Também aí, Maria Teresa esteve ao lado do seu marido, apoiando-o na sua intenção de legar, conforme o fez, à recém-criada Fundação um vasto património fundiário como garantia de sustentabilidade e do cumprimento da sua missão.
As inúmeras viagens que realizou ao longo da vida e o contacto com as múltiplas realidades sociais, culturais, políticas e económicas que lhe proporcionaram foram momentos fundamentais para estruturar e situar aquela que entendia devia ser a sua ação junto da comunidade onde se inseria. Entre essas experiências, recolheu particulares ensinamentos nas viagens a África e à Índia, destacando igualmente, e por diversas vezes ao longo da vida, a influência que sobre si exerceu a presença no encerramento do Concílio Vaticano II, em especial devido ao espírito e ao alcance reformista que emanou do concílio.
O falecimento prematuro do marido em 1975 abriu uma nova fase da sua vida, particularmente difícil, no conturbado contexto político que se seguiu ao 25 de abril de 1974. Nesses anos de transição para a democracia, acompanhou de perto os destinos da Fundação Eugénio de Almeida procurando, na década de 1980, em articulação com o Conselho de Administração da época transpor dificuldades, superar obstáculos e garantir que se criassem condições para prossecução dos fins da instituição cuja sustentabilidade fora colocada em causa pela ocupação das herdades, o seu principal ativo.
Quer através da sua intervenção na Fundação, enquanto membro do Conselho de Administração – cargo que ocupou até ao ano de 1999 – quer através de iniciativas que empreendeu a título particular ou noutros contextos institucionais, deu continuidade a muitas das causas que tinham sido as do seu marido, Vasco Maria Eugénio de Almeida, com especial ênfase no apoio a ações relacionadas com Évora ou com o Alentejo, chegando a considerar-se entre os amigos uma eborense e uma alentejana.
Com efeito, a ligação ao Alentejo perdurou, e continuou a viver entre Lisboa, na Casa de Santa Gertrudes, e Évora no Paço de São Miguel. Como reflexo desta afinidade, criou em 1995 o Instituto de Cultura Vasco Vill’Alva que tinha como missão o apoio à cultura em Évora e no Alentejo, âmbito no qual promoveu a publicação de diversas obras, criou a Coleção de Carruagens, ainda hoje existente, e promoveu um importante trabalho na preservação da memória do Alentejo através do tratamento e conservação de arquivos de várias entidades, entre os quais o próprio arquivo da família Eugénio de Almeida.
Outra ação foi o apoio regular a várias instituições ou projetos de cariz cultural, educativo ou social que se é verdade assumiu muitas vezes a forma de apoio financeiro direto, não deixou também de implicar muitas vezes “apenas” o seu envolvimento interventivo e próximo, no exercício da sua cidadania ou numa ótica de responsabilidade social. Foi sócia-fundadora da Associação de Pedagogia Infantil, em Lisboa, Presidente do Conselho de Administração da Fundação Patrocínio, vice-presidente da Secção Auxiliar Feminina da Cruz Vermelha, Diretora da Casa de S. Vicente, em Lisboa, membro da Direção da Associação D. Pedro V de que também foi Presidente Honorária, Diretora da Associação Portuguesa de Casas Antigas, Vogal do Conselho das Ordens de Mérito Civil, entre muitas outras.
Consciente da importância e do significado do nome Eugénio de Almeida, os últimos anos da sua vida dedicou-os também a perpetuar a memória desse legado. Com esse objetivo fomentou a investigação em torno da figura de José Maria Eugénio de Almeida, o primeiro a utilizar o apelido e o grande responsável pela construção do “império” com base no qual as seguintes gerações viriam a desenvolver a sua atividade. Foi igualmente responsável pela publicação da ainda hoje única biografia existente sobre Vasco Maria Eugénio de Almeida, a que deu o título Vasco Vill’Alva, uma presença no Alentejo.
Ao longo da vida foi homenageada com várias distinções e condecorações, como a Comenda da Ordem de Benemerência, a Medalha de Ouro da Cidade de Évora e a Cruz de Mérito da Ordem Prométio Melitense da Ordem Soberana e Militar de Malta.
Apesar de os últimos anos da sua vida terem sido passados, sobretudo, na Casa de Santa Gertrudes, em Lisboa, nunca se esqueceu do Alentejo e das suas gentes, legando, em testamento, a maioria dos seus bens financeiros a instituições de Évora que desenvolvem a sua atividade nas áreas da assistência e da solidariedade social.
Faleceu ao início da tarde do dia 14 de julho de 2017, na Casa de Santa Gertrudes, em Lisboa, no mesmo local onde 42 anos antes tinha falecido o seu marido, Vasco Maria Eugénio de Almeida. Tinha 95 anos de idade.
Rui Carreteiro