Loggia

À data da aquisição do Páteo de São Miguel pelo Eng.º Vasco Maria Eugénio de Almeida, a galeria da Torre dos Capitães, era um espaço fechado e compartimentado, tudo o oposto, portanto, do que deveria ser uma loggia, designação que também recebe este elemento arquitetónico. No sentido de recuperar a configuração original, as paredes que se elevavam acima do muro e os tabiques interiores foram removidos, retomando a ligação visual à planície envolvente e ao casario da cidade, bem como a alguns dos seus monumentos como são os casos da Universidade, da Igreja do Espírito Santo, do Seminário Maior de Évora e da Sé. Desta posição é também possível vislumbrar na linha do horizonte, para sul, as vinhas que constituem a base da atividade vitivinícola da Fundação Eugénio de Almeida, cujos proventos são aplicados no cumprimento da missão legada pelo seu Instituidor, nos domínios espiritual, social, cultural e educativo.

Durante as obras da década de 1960 foram descobertas as janelas geminadas em arco de ferradura, em estilo manuelino-mudéjar, que hoje conferem identidade à fachada do Paço de São Miguel, mas que à época se encontravam entaipadas.

Acima das janelas, decorando o beiral, um friso clássico em esgrafito, de ornatos naturalistas e geométricos, de meados do séc. XVI. O esgrafito é uma técnica de pintura, a fresco, que consiste em aplicar sobre um fundo escuro de estuque uma camada de tinta branca, arranhada posteriormente com estilete, de modo que o fundo apareça em forma de sombras.

Adossada à torre dos Capitães da cidade, a loggia, bem como a galeria que dá para o jardim, virada a norte, são contemporâneas da grande campanha de obras empreendida por D. Diogo de Castro na década de 1570. Correspondendo à necessidade que temos vindo a sublinhar de a família dos Capitães-mor da cidade adequarem o seu estilo de vida ao estatuto social e político e ao poder económico que entretanto tinham adquirido, as transformações arquitetónicas introduzidas no Paço de São Miguel nesse período não são estranhas ao facto de aqui ter estabelecido a sua residência no início da década de 1870 D. Sebastião, enquanto frequentava as aulas da Universidade de Évora, criada pelo seu tio, Cardeal D. Henrique.

“Diminuída a sua importância como bastião defensivo, o Paço (…) ia-se transformando em moradia própria a uma aristocracia que procurava adequar as referências estéticas do seu meio ambiente aos valores e exigências culturais de congéneres círculos europeus”[1].

Da loggia, junto à base da torre dos Capitães da cidade, podemos ver a Porta da Traição. Ao contrário do que a designação inspira, esta porta, como muitas outras que se rasgam em zonas acasteladas, não está associada a acontecimentos ou lendas a que deva o seu nome, mas é antes uma tipologia presente na estrutura arquitetónica de fortificações como foi outrora o Castelo de Évora, utilizada como passagem de fuga, em caso de retirada das tropas sitiadas, encontrando-se, por isso, em regra, em locais íngremes e de acesso difícil.

 

[1] Joaquim Oliveira Caetano; José Alberto Seabra Carvalho – Frescos Quinhentistas do Paço de S. Miguel. Évora: Instituto de Cultura Vasco Vill’Alva, 1998, p. 14.