Ermida de São Miguel

A importância histórica da Ermida de São Miguel do Castelo e o seu significado patrimonial no contexto de Évora, encontram fundamentos remotos. Após a conquista da cidade aos mouros, este terá sido um dos primeiros espaços a ser consagrado ao culto religioso cristão, fosse por via da ocupação de uma estrutura preexistente, fosse por intermédio da edificação de raiz de um novo templo para uso exclusivo da Ordem Militar de São Bento de Calatrava (Freires de Évora e mais tarde redenominada Ordem de Avis), a quem competia a defesa do território conquistado.

De acordo com Túlio Espanca, a traça arquitetónica original do templo da época medieval perdeu-se em período indeterminado pelo que o edifício existente terá sido erguido no local do anterior no final do século XVII conservando, no entanto, elementos arquitetónicos gótico-manuelinos como é o caso da cobertura do presbitério datada de cerca de 1500 (Espanca, 1966, p. 92), com destaque para as mísulas e ornatos cilíndricos, decorados com elementos naturalistas do manuelino regional e para a Cruz de Avis, esculpida na chave central da abóbada (Mendes, 2003, p. 11).

Em 1787 o templo encontrava-se muito arruinado, o que explica a intervenção de restauro patrocinada no século XIX pelos Marqueses de Valada, à época proprietários do conjunto edificado onde se integrava também o Paço de São Miguel (Espanca, 1966, p. 92). No entanto, o alcance desta intervenção não terá perdurado, já que há registo de em 1939 funcionar na ermida uma carpintaria, desativada nesta data, para reabertura do espaço ao culto no âmbito das comemorações da Fundação e Restauração de Portugal que iriam ter lugar.

O edifício seria, novamente, objeto de restauro em 1965, por Vasco Maria Eugénio de Almeida que em 1957 tinha adquirido, entretanto, o Páteo de São Miguel. Desta intervenção resultou a eliminação do nicho do altar - onde em 1965 ainda se observava uma imagem barroca de São Miguel Arcanjo, de madeira dourada e policromada (com 1,15m de altura) -, e a remoção de um banco corrido, em alvenaria, que acompanhava as paredes laterais da nave. Ainda nesta campanha de obras foi ensaiada a construção de um adro contíguo à porta lateral, virada a noroeste, com a reutilização de duas colunas renascentistas, em mármore, deslocadas da entrada principal do antigo Palácio da Inquisição (Espanca, 1966, p. 92).

As sucessivas intervenções de que foi objeto ao longo dos séculos, descaracterizaram de forma significativa a arquitetura do edifício, embora se possa identificar a predominância de características do período manuelino e maneirista o que, desde o ponto de vista cronológico e estilístico, contribuiu para uma integração harmoniosa no conjunto edificado onde se encontra o Paço de São Miguel.

A Ermida de São Miguel está classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1939.