Abrigo de combatentes, 2014
Instalação, 5x140 cm

Esta é a primeira peça da exposição, e a que lhe dá o nome. Parte da ideia de que o uso da linguagem por todas as entidades, corporações, Estados, meios de comunicação, etc., etc., incluindo as pessoas, que a utilizam continuamente para chegar a um consenso sobre a realidade, está absolutamente condicionada por quem comunica e para quem comunica. Hoje, é evidente que uma mesma frase pode mudar radicalmente dependendo do interlocutor ou da forma como é dita, do emissor ou do recetor. A mensagem depende de muitos fatores e todos eles intervêm e modificam a comunicação final, em tempo real. Existem frases ou palavras, como as que fazem parte da série Tomar medidas, que dependendo de quem as pronuncia podem definir o real, substituí-lo ou destruí-lo.


Somos Aquello que Dejamos de Ser, 2023
Instalação cinética, 300x200x200cm

Esta instalação cinética foi criada a partir de ramos recolhidos pelo artista à beira-mar, e de folhas, fundidas posteriormente em bronze. Apela à detenção do olhar na beleza dos ramos polidos pela erosão, a contemplar a subtileza do movimento que rompe a falsa separação entre cultura/natureza, o binómio vivo/não vivo, para pensar em naturezas-culturas (segundo o filósofo Bruno Latour) onde todos os agenciamentos que as compõem têm vida.


Los Nuevos Salvajes, 2023
Desenhos, 30x25 cm [x 39]

Série de desenhos que incluem materiais naturais recolhidos por Ampudia, no meio ao seu redor, tais como paus, folhas ou ramos, que devolvem o nosso olhar para o contexto próximo, para o pequeno e para o quotidiano. Falam de mitigação, de remediação e de rewilding ou renaturalização; de coser a ferida de um mundo que parece ter rompido os laços com a vida.


Dónde Dormir 4 (Biblioteca), 2014
Vídeo monocanal com áudio, 4’44’’
Fotografia, 125x233 cm

Dónde dormir 1 (Goya), 2008
Fotografia, 215x160 cm

Tal como noutros trabalhos, a série Dónde dormir é também construída a partir de um gesto mínimo. Neste caso, dormir dentro de um museu, algo que historicamente temos construído como ilegal e subversivo. Por detrás da aparente banalidade deste gesto quotidiano, esconde-se uma posição política de resistência a certas ficções sociais ou convencionalismos. Com esta obra, o artista propõe uma reformulação do nosso habitar através de uma atitude que, na sua simplicidade e reiteração, devolve o nosso olhar à forma como o indivíduo se relaciona com o espaço público. A memória com que construímos o espaço social torna-se, assim, objeto de análise.


Biblioteca Rebelde. Secret Losers, 2024
Instalação cinética, 85x35x350 cm

Instalação cinética em que 14 livros deslizam para a frente no plano horizontal e depois recuam para trás, de modo que - por um momento - sobressaiam da prateleira em que estão colocados. Fazem-no com uma cadência moderada, mas contínua, procurando o melhor efeito estético possível a partir deste movimento permanente. O carácter dinâmico da própria obra intervém em toda a biblioteca em que está instalada, dotando-a de um novo e poderoso significado.

Eugenio Ampudia procurou selecionar livros que relatam, analisam ou recordam algumas das revoltas populares menos conhecidas da história e certas experiências sociais baseadas em comunidades organizadas em torno de ideologias utópicas.

A partir da biblioteca da família Eugénio de Almeida, foram incluídos títulos, publicados nos séculos XIX e XX,  sobre o Alentejo, com enfoque na cidade de Évora (na sua História política, social, rural, académica…), e autores eborenses/alentejanos ou com ligação à cidade ou ao Alentejo (escritores, poetas, historiadores, professores, investigadores, facilmente identificáveis pelos visitantes da exposição); livros de autores, ou com a participação de autores, que foram proibidos, censurados, exilados ou presos em algum momento da História de Portugal, sobretudo durante a ditadura do Estado Novo (28 de maio de 1926 - 25 de abril de 1974); livros anteriores a 1970 (ficção, ensaios, outros).

 


Concierto para el Bioceno, 2020
Fotografia, 140x300 cm

Esta obra faz parte das últimas investigações de Ampudia sobre a necessidade de reformular o presente a partir de postulados pós-humanistas e de compromisso eco-social. A 22 de junho de 2020, no Teatro do Liceu de Barcelona, por ocasião da reabertura da programação após o fim das medidas de confinamento devido à pandemia de covid-19, Eugenio Ampudia concebeu um concerto para plantas como ato simbólico de uma mudança de paradigma. Um total de 2.292 plantas, a lotação total do teatro, apreciaram a interpretação de Crisantemi de Giacomo Puccini por um quarteto de cordas. O conceito de Bioceno, sugerido por Blanca de la Torre, curadora da ação, substitui o termo conhecido como Antropoceno, que define a história mais recente de deterioração do nosso planeta devido ao impacto do homem. O Bioceno apela, em última análise, ao início de uma nova era que coloca, finalmente, a vida no centro.


Concierto para Plantas (Estufa Fria, Lisboa), 2023
Vídeo monocanal com áudio, 5’50’’

Projeto de continuidade do Concierto para el Bioceno (Barcelona, 2019), esta obra inverte o procedimento, ao levar os músicos para a residência permanente dos seres vegetais. Ali, as plantas não foram as convidadas, foram os instrumentistas, com a missão de gravar, pela primeira vez, o tema Festival de Pedro de Castro, compositor e acompanhante habitual dos grandes nomes do Fado. A visita do trio de cordas e o concerto tornam-se um tributo de Eugenio Ampudia à capacidade regenerativa e criadora do planeta, e o reconhecimento das possibilidades de coexistência com a humanidade.


S.O.S. - Salvai as Nossas Almas, 2022
Vídeo monocanal com áudio, 2’18’’

No âmbito da Arco Lisboa 2022, Eugenio Ampudia converteu o Panteão Nacional de Portugal no transmissor do sinal universal de socorro em código Morse. O sistema de iluminação específico para esta ação consistiu na instalação de 80 projectores LED, colocados em todas as janelas e portas do edifício. Controlados por um temporizador, acendiam-se e apagavam-se de forma intermitente para transmitir as letras SOS, de acordo com o alfabeto Morse. A intervenção de Eugenio Ampudia reconhece e valoriza a qualidade do Panteão como espaço físico e moral que acrescenta sentido à mensagem que representa um pedido angustiado de ajuda numa situação de desespero. Esta aflitiva chamada de atenção adquire, sem dúvida, uma força acrescida e uma enorme carga simbólica quando é lançada a partir do local onde são recordados e homenageados aqueles que ajudaram a formar a alma de um país: o Panteão Nacional de Portugal. As letras SOS, que, segundo a explicação histórica mais difundida, formam o acrónimo de Save Our Souls, não admitem nuances e o que significam é entendido por todos e de imediato como um inapelável sinal de último recurso. O problema é universal, a mensagem convoca-nos a todos.


Armad a los Artistas, 1999
Fotografia, 150x220cm

Esta obra documenta uma ação em que a frase que lhe dá título é formada por dez mil chupa-chupas. Nesta ação, os espetadores tinham a possibilidade de retirar os rebuçados até desativarem a mensagem, fazendo-a desaparecer.


Ode to Joy, 2023
Vídeo monocanal com áudio, 2’22’’

Este vídeo é um concerto simples criado com objetos do quotidiano - tachos, frigideiras e utensílios de cozinha - que, quando atingidos pelas goteiras provocadas por uma tempestade, soam como a música do hino da União Europeia, a conhecida Ode à Alegria de Beethoven.


Impresion Soleil Levant, 2007
Desenhos, 70x100 cm [x 4]

Eugenio Ampudia coloca o visitante à beira-mar, permitindo-lhe ver, a partir dessa posição, algumas rochas próximas, sobre as quais se encontra uma coleção de obras pictóricas, de que apenas o verso é visível. As obras são: Le déjeuner sur l'herbe, de Manet, Arearea, de Gauguin, L'origine du monde, de Courbet, Bal du moulin de la Galette, de Renoir, Pommes et oranges, de Cézanne, La chambre à Arles, de Van Gogh e Olympia de Manet. Estas pinturas pertencem à coleção do Museu d'Orsay, em Paris, e enquadram-se no princípio das vanguardas históricas.


La Verdad es una Excusa, 2007
Vídeo monocanal com áudio, 4’42’’

Esta obra fala-nos da arte, da sua linguagem de transmissão e dos interlocutores que intervêm no discurso, mas fala igualmente de questões que nos dizem respeito fora da arte, como a identificação com uma identidade específica e determinada, a memória e as suas ligações com o real, a natureza rítmica do fracasso... e a natureza cadenciada e constante do naufrágio. Para Ampudia, não existe uma verdade incontestável e tudo, tanto o nosso sistema de crenças como a nossa memória do passado próximo ou longínquo, até mesmo a perceção e as observações que fazemos respondem a um engano concetual: não existe a verdade, mas sim um ponto de vista, um posicionamento em relação ao real. Daí que a verdade mude com apenas uma mudança elementar dos dispositivos da realidade. Utilizando o simples mecanismo de inversão do sentido da projeção cinematográfica, o vídeo “devolve” os exilados espanhóis da Guerra Civil ao seu próprio lado da fronteira, fá-los regressar a casa perante os nossos olhos e torna evidente, maior e mais sangrenta a crueldade do seu destino histórico e a sua fraternidade paralela com os exilados contemporâneos. Os coxos andam para trás, as crianças bebem as lágrimas dos seus olhos, os guardas franceses recuperam um carro caído ou capotado e o desfiladeiro de Le Perthus restitui a Espanha espanhóis que nunca deixaram de o ser. No chão, instrumentos mecânicos, robots a meio caminho entre uma pistola e um carro de criança “trituram”, nas palavras do artista, frases do Hiperion de Hölderlin - esse rapaz devastado pela guerra e pela natureza humana: “As ondas do coração não rebentariam em tão bela espuma, nem se tornariam espírito, se não chocassem com o destino, essa velha rocha muda”.


A Glorious Accident, 2020
Instalação cinética, 58x20x13 cm [x 4]

Não é certo como é que o progenota, ou primeira célula que viveu na Terra, se organizou como ser isolado e começou a evoluir e a desenvolver-se até dar origem ao ser humano. Partindo desta ideia, Eugenio Ampudia interessa-se pelos organismos - células, bactérias e seres unicelulares – que habitavam as águas do oceano primordial e que se foram juntando em estruturas tubulares para terem acesso aos nutrientes. Com o tempo, os tubos fecharam-se, dando origem a seres multicelulares muito mais desenvolvidos que, muito mais tarde, emergiram da água como uma multiplicidade de formas autónomas com um elevado nível de consciência, ou seja, de “ser”. Em busca de novas possibilidades, estes organismos reproduzem-se e expandem-se, por partição, e por sua vez dividem-se em blastómeros, que se dividem novamente até darem origem a diferentes órgãos que têm funções específicas dentro do ser vivo. Esta instalação cinética gera uma sensação de estranheza visual e de perplexidade ótica. A experiência surge da enorme quantidade de interações recíprocas entre os sistemas de memória e os sistemas relacionados com a categorização preceptiva. Isto levanta questões sobre a consciência do eu e as suas implicações.