Nossa terra sofre sem querer

Bel Morada

EXPOSIÇÃO

Curadoria de Luís Afonso

De terça-feira a domingo, 10h00-13h00 / 14h00-19h00 | Entrada livre

Inauguração: 23 de maio | 18h00

 

Numa lógica de continuidade do ciclo expositivo dedicado à valorização e apresentação de projetos artísticos desenvolvidos em contexto académico, esta exposição integra a programação do Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida enquanto testemunho da produção e investigação artística contemporânea realizada no âmbito do Curso de Mestrado em Práticas Artísticas em Artes Visuais, do Departamento de Artes Visuais e Design da Escola de Artes, da Universidade de Évora (DAVD/EA/UÉ).

A exposição Nossa terra sofre sem querer reúne uma seleção de trabalhos da artista visual, poetisa e investigadora Bel Morada — pseudónimo de Isabel Saraiva Gaspar Guedes (Brasil, 1994) — desenvolvidos na sua maioria no contexto do seu percurso de Mestrado, concluído em 2025 com o trabalho de projeto intitulado Respigar como prática artística: a recolha e ressignificação do lixo como linguagem da assemblage.

A exposição ocupa o Espaço Atrium com uma instalação de grande escala, composta por trabalhos de técnica mista que exploram e fundem o bordado, a pintura e a assemblage. Esta instalação propaga-se pelo espaço como um exercício de poesia visual e espacial, onde a matéria ‘respigada’ se converte em signo, e o fragmento em narrativa.

Bel Morada propõe uma leitura expandida da ideia de “terra” — compreendida não apenas como solo físico e tangível, mas como corpo, ecossistema, comunidade e memória afetiva. Os territórios abordados são vulneráveis, frágeis, atravessados por marcas e silêncios que pedem escuta. Ao empregar resíduos e objetos rejeitados, a artista subverte o descartável, conferindo-lhe valor estético, político e simbólico. É nesse gesto de (re)aproveitamento que se inscreve uma crítica à lógica do consumo e do abandono, bem como uma proposta de reparação poética.

A obra de Bel dialoga com um conjunto de artistas que, como Arthur Bispo do Rosário, Agnès Varda, Vik Muniz e Hélio Oiticica, desafiaram convenções materiais e conceptuais, criando a partir da escassez, da periferia e do excesso. Neste contexto, a exposição insere-se numa abordagem que gera sinergias entre a arte, ecologia, memória e crítica social, devolvendo à criação contemporânea o seu potencial de denúncia, reconstrução e imaginação.

Ao ocupar este espaço, Nossa terra sofre sem querer interroga o lugar da arte contemporânea na construção de novos imaginários de pertença e cuidado. Esta exposição não dá respostas — oferece matéria sensível para pensar e sentir, instigando o público a refletir sobre o tempo, a perda e a forma como habitamos, cuidamos e, tantas vezes, descuramos a nossa própria terra e a nossa existência.

Luís Afonso, maio de 2025

 


 

BEL MORADA
Nasceu em 1994 na cidade de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, Brasil. É bacharel em Artes Gráficas, licenciada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e Mestre em Práticas Artísticas em Artes Visuais pela Universidade de Évora. Os seus trabalhos são desenvolvidos com linguagens variadas e técnicas mistas, explorando principalmente linhas, materiais diversos e detalhes. O seu repertório criativo nasce da observação de diferentes casas e da pesquisa que tem vindo a realizar sobre as pessoas que nelas habitam desde há alguns anos. O seu processo criativo ecoa um olhar muito sensível sobre as relações que se estabelecem entre as casas e as pessoas na cidade. A artista recorre também às suas memórias nas suas obras, o que provoca nelas uma sensação de desconforto e devaneio, criando assim um universo cheio de mistério entre a fantasia e a realidade que habita.


LUÍS AFONSO
Artista Plástico, Professor Auxiliar no Departamento de Artes Visuais e Design da Escola de Artes da Universidade de Évora (DAVD/EA/UÉ) e membro integrado do Centro de História de Arte e Investigação Artística (CHAIA). É doutorado em Artes Visuais pela Universidade de Évora (2015) e licenciado em Artes Plásticas - Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (2005). Expõe regularmente o seu trabalho artístico e colabora em vários projectos de arte pública, monumentos, esculturas e simpósios internacionais. A par do ensino, a sua produção e investigação artística têm-se centrado sobre questões da matéria e a natureza da Escultura. Influenciado tanto pelos processos escultóricos académicos — saber, saber-fazer e fazer — como pelas práticas da escultura contemporânea, seu trabalho assume uma dimensão híbrida. Uma dimensão onde a escultura percorre e se encontra com outras áreas artísticas e científicas, explorando as suas correlações e sinergias. Entre os domínios de investigação destaca-se o território complexo da Arte Sonora, em particular a SoundSculpture.

 

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