Arquivo e Biblioteca Eugénio de Almeida

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  • Património
    05-09-2024

    2024-09-05 A tal ponto se enraizou a ideia de que nas hoje conhecidas como Casas Pintadas tinha residido Vasco da Gama que, por ocasião das Comemorações dos 500 anos do falecimento do Infante D. Henrique, se decidiu fazer uma cópia tridimensional do «claustrim» e da «capela» das Casas Pintadas de Évora, para constar no Museu de Marinha, à época instalado no Palácio do Conde de Farrobo, às Laranjeiras, em Lisboa.

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O ARQUIVO

Detentora de uma das maiores fortunas em Portugal na segunda metade do século XIX, a família do Instituidor da Fundação Eugénio de Almeida alicerçou uma parte do seu sucesso na implementação de um rigoroso sistema de informação graças ao qual foi possível assegurar ao longo de cinco gerações não só a gestão da diversidade e volume de negócios em que os seus membros participaram, mas também a administração de um vasto património imobiliário, grande parte dele fundiário e disperso pelo país.

Mantida na sua íntegra, a documentação do arquivo permite hoje reconstituir o percurso ascensional de uma família burguesa no Portugal de oitocentos, evidenciando não só as que foram as suas opções ao nível das atividades económicas, mas também a intervenção pública que os seus membros protagonizaram como deputados, Pares do Reino, Conselheiros de Estado ou Provedores da Casa Pia de Lisboa, para além de abrir uma janela para o universo quotidiano das vivências familiares e do estilo de vida da elite deste período.

Refletindo as atividades e a história da família Eugénio de Almeida desde o final do século XVIII até à atualidade, o âmbito cronológico do arquivo remonta, no entanto, ao século XIV como resultado da incorporação de documentação, em especial títulos de propriedade, provenientes dos cartórios de Casas Senhoriais a quem ao longo da segunda metade do século XIX foram adquiridos bens de raiz que contribuíram para a construção do “império” Eugénio de Almeida.

A documentação do arquivo permite igualmente testemunhar a obra filantrópica e mecenática desenvolvida pelo Instituidor da Fundação, Vasco Maria Eugénio de Almeida (1913-1975) sobretudo entre 1940 e 1975. Desde logo as ações empreendidas ao nível da salvaguarda do património arquitetónico, como foram os casos do Convento da Cartuxa de Santa Maria Scala Coeli, do antigo Palácio da Inquisição ou do complexo de edifícios do Páteo de São Miguel, edifícios que resgatou da ruína e aos quais conferiu um novo sentido no contexto do desenvolvimento cultural e social da cidade de Évora.

No arquivo encontra-se também o registo da intervenção de Vasco Maria Eugénio de Almeida nos domínios social, educativo e espiritual, em que se destaca o avultado donativo para a construção do Hospital do Patrocínio (1957), a cedência de terrenos para a construção do Aeródromo de Évora e de bairros sociais, a partição da Herdade do Álamo da Horta pelos trabalhadores assalariados da povoação de São Manços (1958) ou a reativação do Convento da Cartuxa (1960), para além, naturalmente, da criação da Fundação Eugénio de Almeida em 1963.

Pela natureza da documentação reunida no Arquivo e Biblioteca Eugénio de Almeida, a consulta do acervo reveste-se de particular interesse para a realização de investigações em domínios tão variados da história do país como a história económica e empresarial, a história social e das elites, a história da agricultura, ou ainda a história da arte e do ensino, entre outros.

1867
Cathalogo Methodico da Livraria do Illmo. e Exmo. Snr. Conselheiro José Maria Eugénio de Almeida

A BIBLIOTECA

No sistema de informação da Casa Eugénio de Almeida a biblioteca ocupava um lugar central. Expressão da natureza pragmática de uma família de empreendedores como foram os Eugénio de Almeida, este fundo bibliográfico reveste-se de um caráter instrumental no sentido em que constitui um repositório de conhecimento e de informação sistematicamente consultada quer para instruir as tomadas de decisão, quer para servir de apoio ao estudo de temáticas associadas às suas atividades económicas ou à intervenção pública que protagonizaram.

Uma prova da importância da biblioteca enquanto fonte de informação e de conhecimento foi a contratação, na década de 1860, de Francisco Casassa, funcionário da Biblioteca Nacional, para proceder à organização e catalogação dos milhares de obras que constituíam o acervo reunido por José Maria Eugénio de Almeida. O resultado do encargo foi a produção de um Cathalogo Methodico que passou a constituir uma ferramenta de pesquisa essencial para assegurar o acesso rápido às obras ou à informação que era necessário consultar.

Entre as obras mencionadas neste instrumento de pesquisa, a mais antiga foi impressa em 1498 e compila todas as cartas de privilégio papais concedidas à Ordem de Cister. No entanto, a grande maioria do fundo bibliográfico da família Eugénio de Almeida é composta por livro antigo e por obras publicadas nos séculos XIX e XX nas mais diversas áreas de conhecimento - Ciências eclesiásticas, Ciências morais e políticas, Direito, Ciências naturais e exatas, Belas-artes, artes e ofícios, Literatura, História, Agricultura, Educação, etc.

Para além desta documentação, bem como da entretanto produzida e acumulada pela Fundação desde a sua criação em 1963, o Arquivo e Biblioteca Eugénio de Almeida tem também à sua guarda a antiga biblioteca do Instituto Superior Economico e Social de Évora (ISESE), estabelecimento de ensino criado por Vasco Maria Eugénio de Almeida em articulação com a Companhia de Jesus, que representou o regresso dos estudos superiores à cidade, cerca de 200 anos após a extinção da Universidade de Évora.