A fronteira é por excelência o lugar próprio do conhecimento, como diz Tillich. Para conhecer as preocupações dos homens e mulheres de hoje, este ciclo de conversas sobre territórios, posiciona-se assim excentricamente nas fronteiras, esse locais tão adequados para pensar. As fronteiras que escolhemos foram a fronteira entre a política e a sociedade civil; a fronteira entre a história e o futuro; a fronteira entre a arte e o entretenimento; a fronteira entre a Igreja e a sociedade; a fronteira entre a religião e a cultura; e, finalmente, a fronteira entre a heteronomia e autonomia. Em cada uma interrogar-nos-emos quanto às suas definições mais ou menos certeiras, mais ou menos obsoletas, mais ou menos forçadas.

 

29 de maio | 18h00
Ser português, mas não sem ti!
Com P. José Frazão Correia SJ e P. António Júlio Trigueiros SJ

As comunidades "puras" são grupos sociais mais pobres. A partir da dinâmica entre interior, “os nossos”, e fora, “eles”, abordar-se-à, com P. José Frazão Correia SJ, a forma como a comunidade católica se percebe de forma porosa e como o encontro com o outro a leva a ser mais fiel à sua identidade. A compreensão de uma identidade social que se compreende não a partir do centro, mas a partir das fronteiras será assim o ponto de partida para refletir criticamente sobre a onda de imigração que atualmente nos desafia como comunidade de portugueses e que coloca a questão da diluição da identidade dos portugueses como povo. Em seguida, analisaremos um caso histórico de exclusão de um grupo social. A partir do exame do caso da expulsão da Companhia de Jesus de Portugal no século XVIII, veremos o impacto que essa política de exclusão teve nomeadamente na educação no Alentejo como caso de trabalho para pensar as tentações atuais de exclusão sumária de comunidades inteiras e dos seus impactos tanto nos excluídos, como nos que excluem.

Sobre P. José Frazão Correia SJ
Jesuíta deste 1995, licenciou-se em Filosofia pela Universidade Católica Portuguesa, doutorando-se em Teologia Fundamental pela Universidade Pontífica Gregoriana em Roma. Foi professor na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, nos polos de Braga e do Porto. Foi nomeado Provincial da Província Portuguesa da Companhia de Jesus em 2014, juntando-se à Brotéria em 2022 como diretor da revista.


Sobre P. António Júlio Trigueiros SJ
Nasceu em 1966, em Barcelos, onde cresceu e estudou. Após uma breve passagem pelo curso de Direito em Coimbra, entrando no noviciado da Companhia de Jesus em 1989, com 22 anos.

Licenciou-se em Filosofia e Humanidades pela Faculdade de Filosofia de Braga da Universidade Católica Portuguesa (1996), deu aulas de História e Português durante dois anos no Colégio de São João de Brito, em Lisboa (1996-1998) e de seguida foi estudar para Roma, onde fez o bacharelato em Teologia e a licenciatura em História da Igreja na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (1998-2003). Foi ordenado sacerdote em 2002 na igreja de São Roque, em Lisboa. Em 2016 concluiu o Doutoramento em História Moderna na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com a dissertação intitulada Os Jesuítas Portugueses exilados nos Estados Pontifícios no período pombalino e post-pombalino. Foi Diretor da Brotéria, a revista cultural dos Jesuítas portugueses, entre 2017 e 2021 e integrou a equipa que inaugurou a nova casa de cultura no Bairro Alto, em 2020.

Atualmente exerce as funções de reitor da Igreja de São Roque e de capelão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (desde 2019). Na Brotéria está atualmente encarregado da biblioteca e dos seminários de investigação em História.

 

18 de junho | 18h00
A arte do encontro social a partir da gratuitidade e do lúdico
Com Catarina Ricciardi e P. João Sarmento SJ

Muitos dos artistas mais radicais, mais de fronteira, passam, com o tempo, a habitar o centro do cânone artístico. A arte será porventura a área humana onde o centro persegue mais as fronteiras do novo, do diferente, do outro. Para pensar o encontro social no presente e no futuro, vamos assim olhar para práticas artísticas que recriando o imaginário do encontro social por via de investigações plásticas em que se trabalham as atividades coletivas que edificam laços afetivos e constroem novas possibilidades de se viver em comunidade. Tendo por fundamento teórico os conceitos do lúdico e da gratuidade, abordar-se-ão alguns trabalhos de artistas como, mas não só, as arquiteturas efémeras de Shirley Paes Leme ou a fantasia dos encontros do coreógrafo Gustavo Ciríaco e do arquiteto João Gonçalo Lopes.

Sobre Catarina Ricciardi
Licenciada em Arte Multimédia pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa em 2012, concluiu uma especialização em fotografia digital na Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual no mesmo ano. De seguida, mudou-se para Londres onde concluiu um Graduate Diploma em History of Art pelo Courtauld Institute of Art. Juntou-se à Broteria em 2022, trabalhando atualmente na equipa da galeria.

Sobre P. João Sarmento SJ
Jesuíta desde 2008, foi ordenado padre em 2020. Licenciado em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e em Filosofia pela Universidade Católica Portuguesa, cursou Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, na Universidade de Comillas em Madrid e na Universidade Católica Portuguesa. Foi professor convidado na Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual, e é atualmente diretor-artístico da Brotéria.

 

18 de julho | 18h00
Espiritualidade e espiritualidades, cultura e culturas
Com P. João Norton de Matos SJ e P. Vasco Pinto Magalhães SJ

Numa época de diversidade religiosa e de coexistência de comunidades com diferentes espiritualidades no mesmo espaço geográfico, é imperioso refletir sobre esse conceito, espiritualidade, que usamos todos, mas cada um com um sentido muito próprio. E também sobre as relações entre a espiritualidade e a cultura, as relações das espiritualidades entre elas, e as relações entre as espiritualidades nas diferentes culturas (secular, ocidental, oriental). Que natureza, valor e sentidos podemos atribuir às espiritualidades?

Sobre P. João Norton de Matos SJ
Jesuíta desde 1990, João Norton é licenciado em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa. Completou a sua formação na Companhia de Jesus com uma especialização em Estética e Filosofia da Arte em Louvain-la-Neuve, e em Teologia da cultura, em Paris, com uma tese sobre "a crise moderna da arte sacra”. É atualmente assistente convidado da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, residindo na comunidade da Brotéria desde 2011.

Sobre P. Vasco Pinto Magalhães SJ
Jesuíta desde 1965, o seu percurso entrecruza a pastoral universitária, em Coimbra, Porto e Lisboa, o acompanhamento espiritual e a orientação de Exercícios Espirituais. Foi cofundador do Centro de Estudos de Bioética, tendo uma larga intervenção nesta área de reflexão e debate. É autor de numerosas obras de espiritualidade e formação cristã, juntando-se à Brotéria em 2016.




Sobre P. Manuel Cardoso SJ
Jesuíta desde 2006, concluiu um mestrado em Teologia no Centre Sèvres e outro em Estudos políticos, na EHESS, Paris. Concluiu, recentemente, um doutoramento sobre as políticas públicas de Thomas Hobbes, também na EHESS. Foi diretor-adjunto da revista Brotéria entre 2019 a 2024, e é atualmente diretor-geral da Brotéria.


Parceria:


A Brotéria é uma casa de cultura dos jesuítas portugueses no Bairro Alto, em Lisboa, aberta ao encontro com a cidade. Exploramos inquietações urbanas atuais a partir de múltiplos ângulos e linguagens, de forma rigorosa e profunda: em conversas, exposições, artigos, performances, seminários e workshops. Geramos e acolhemos programação artística, investigativa, discursiva, comunicativa e espiritual. Queremos desenvolver linguagens teológicas e estéticas que contribuam para o enriquecimento espiritual das comunidades eclesiais, em diálogo com a cultura contemporânea. Imaginamos a cultura como um produto “redondo” que abre portas à possibilidade de funcionar em itinerância. A nossa atividade, sendo geograficamente situada, não deseja ser geograficamente limitada. Aqui encontrarão um diálogo a muitas vozes, biblioteca de investigação, revista como rede de pensamento, café como lugar de encontro, livraria como porta de entrada, galeria como forma de expressão. Somos uma casa atenta onde há espaço para a espontaneidade e a discussão.