O mapeamento fotográfico do território. Imagem, processo e pesquisa em arquitetura
EXPOSIÇÃO
Curadoria de Pedro Guilherme e Sofia Salema
De terça-feira a domingo, 10h00-13h00 / 14h00-18h00 | Entrada livre
Inauguração: 9 de outubro
Esta iniciativa, desenvolvida em estreita colaboração com a comunidade do CA²RE (Community for Artistic and Architectural Research) e com a Universidade de Évora (CHAIA e IN2PAST), propõe expandir o conceito de mapeamento, entendendo-o como um ato simultaneamente criativo e crítico.
Entre um workshop coletivo e uma exposição em processo, abre-se um espaço de reflexão sobre o mapeamento não apenas como ferramenta de representação, mas como método e processo — interpretativo, performativo e situado.
Distanciando-se das abordagens convencionais da fotografia de paisagem e arquitetura, o projeto parte do vasto arquivo fotográfico de Duarte Belo, desenvolvido desde o final da década de 1980, para explorar as dimensões metodológicas, simbólicas e territoriais do mapeamento. Uma seleção curada de fotografias, textos, mapas e artefactos visuais será apresentada não como objetos estáticos, mas como formas de interpretação territorial — revelando relações em transformação entre paisagem, arquitetura e memória ecológico-cultural.
No centro do evento está a ideia do arquivo como entidade viva e geradora — dinâmica, relacional e capaz de produzir conhecimento. Esta perspetiva inscreve-se em definições expandidas de mapeamento enquanto processo crítico e aberto: uma forma de tornar visível, recontar e interrogar realidades espaciais. O arquivo torna-se, assim, lugar de ativação — conectando passado e presente, imagem e palavra, experiência e projeto.
A exposição resulta de um processo colaborativo com os doutorandos participantes, que, em formato workshop, dão origem a uma mostra coletiva temporária, desenvolvida in situ e aberta ao público. Nesse contexto, os participantes foram convidados a explorar questões como:
De que modo as práticas de mapeamento podem revelar narrativas invisíveis ou marginalizadas?
Como pode a fotografia atuar não apenas como registo, mas como construção de significado?
Que novas geografias emergem quando o mapeamento é abordado como prática crítica, criativa e situada?
Ao inscrever-se no campo expandido do mapeamento — entre metodologias artísticas, cartografias performativas e consciência ecológico-cultural — este workshop posiciona-se na interseção entre investigação pelo projeto e narrativa territorial. Contribui, assim, para os objetivos mais amplos dos doutoramentos em Arquitetura e Paisagem da Universidade de Évora e da comunidade CA²RE, ao promover abordagens inclusivas, transdisciplinares e orientadas pela prática de investigação em projeto.
O MAPEAMENTO FOTOGRÁFICO DO TERRITÓRIO
Duarte Belo
As fotografias mais antigas aqui presentes são da cidade de Évora, feitas em 1988. As mais recentes são de setembro deste ano corrente 2025. Este trabalho de mapeamento fotográfico do espaço português já conta quase quatro décadas de exercício e mais de 2.400.000 fotografias. Quando percorremos demoradamente a terra, quando caminhamos entre as mais densas cidades e territórios de Natureza intacta, não podemos deixar de nos libertar da materialidade das imagens na tentativa de entendimento de uma realidade que é cada vez mais complexa.
O mapeamento fotográfico do território é leitura do espaço e do tempo; é a criação de um chão onde tudo é evolutivo e se transforma; é a aproximação entre arte e ciência, no estabelecimento de redes e conexões; é a interpretação do conhecimento humano; é não temer a abordagem de qualquer tema por ilimitado e labiríntico que seja; é a perceção de que há uma origem comum para tudo o que é vivo; é procurar o significado da arquitetura como uma singular invenção biológica; é o vislumbrar o amanhã no presente habitado.
O ato da recolha fotográfica não deixa de ser, aqui, um movimento performativo sobre a terra. A marca que deixa é um conjunto de imagens. Há uma experiência de vida, intensa, de concentração, de foco pleno. Ao mesmo tempo é ausência de um quotidiano funcional, de múltiplas respostas a solicitações concretas. Um trabalho disruptivo, contaminado por pensamentos dispersos que abarcam todo o passado vivido, o presente e a projeção do futuro breve. Cada viagem, cada caminhada, é diferente de todas as outras. Há sucessivos sedimentos de memória que dialogam entre si.
Há o pensamento que se libera das imagens. Palavras, frases, pequenos textos compõem um diagrama síntese de todo o trabalho. De uma fotografia documental, observacional, procura-se também a clarificação do domínio da criatividade para uma definição de arquitetura para além da materialidade construtiva que lhe associamos. Ideias que questionam todo o processo evolutivo, orgânico, para uma reflexão sobre tempo presente em que equilíbrios ecológicos estão a ser quebrados.
Duarte Belo (Lisboa, 1968)
Formação em arquitetura (1991). Desde 1986 que trabalha no levantamento fotográfico sistemático da paisagem, formas de povoamento e arquiteturas em Portugal. Este trabalho continuado sobre o território deu origem a um arquivo fotográfico de mais de 2.190.000 fotografias. Publicou vários livros sobre o tempo e a forma do território português, de que se destacam: Portugal — O Sabor da Terra (1997-1998); Portugal Património (2007-2008) e a trilogia 15-5-20, composta pelos volumes Caminhar Oblíquo; Depois da Estrada e Viagem Maior (2020). De outros projetos editados em livro, alguns em co-autoria, poderíamos referir Fogo Frio (2008); Portugal Luz e Sombra (2012); A Linha do Tua; (2013); Paisagem Portuguesa, Portugal Possível e Das Pedras, Pão (2022); Tamanha Vastidão (2025). Tem trabalhado sobre nomes relevantes da cultura portuguesa, como Mário de Cesariny, Ruy Belo, Maria Gabriela Llansol, Alberto Carneiro, Miguel Torga ou Sophia de Mello Breyner. Expõe desde 1987. Lecionou áreas relacionadas com a fotografia e a arquitetura. Foi curador de várias exposições. Participa regularmente em conferências sobre paisagem, arquitetura, metodologias de trabalho e mapeamento fotográfico do território. É editor do blog Cidade Infinita.
Pedro Guilherme (Barreiro, 1968)
Arquiteto. Professor Auxiliar no Departamento de Arquitetura da Escola de Artes da Universidade de Évora. Membro Integrado no Centro de História da Arte e Investigação Artística (CHAIA). Investigador Principal do Projeto de Investigação “MALAGUEIRA - PATRIMÓNIO DE TODOS”.
Sofia Salema (Lisboa, 1969)
Arquiteta. Professora Associada no Departamento de Arquitetura da Escola de Artes da Universidade de Évora. Diretora do Centro de História da Arte e Investigação Artística (CHAIA) e do Doutoramento em Arquitetura. Co-investigadora do Projeto de Investigação “MALAGUEIRA - PATRIMÓNIO DE TODOS”.

