Os Frescos das Casas Pintadas
As decorações da pequena galeria do jardim das chamadas Casas Pintadas são uma das mais interessantes manifestações artísticas do género existentes em Portugal e um exemplar único entre nós de pintura mural palaciana da primeira metade do século XVI. Animais fantásticos, como dragões, sereias, e uma hidra de sete cabeças, convivem com aves domésticas e bravias, leopardos, raposas e veados, recriando um mundo pleno de simbolismo. Um friso composto por centauros femininos com as cabeças ornamentadas por complexos penteados e jóias, querubins, vasos e folhagens, serve de base ao conjunto que se reparte por cinco paineis: na parede sul, uma garça debate-se como numa caçada, servindo de alegoria ao duelo amoroso; no tramo seguinte, as sereias lembram os perigos que enfrenta a alma humana, enquanto o ataque de pequenos pássaros a uma coruja exemplifica o aviltamento da sabedoria pelos ignorantes; o quadro central é o mais complexo, destacando-se nele dois galos de briga e outros animais conotados, desde a Antiguidade Clássica à Idade Média, com a luxúria, como o veado, a raposa, a lebre e a perdiz; no quarto painel, a composição é dominada por uma hidra cujas sete cabeças parecem evocar tanto os pecados mortais com as virtudes cardinais. Está ladeada, entre outros bichos, por um pavão, a ave que simboliza a ressurreição; no último painel, à entrada do oratório anexo, um pelicano derrama o próprio sangue sobre as suas crias mortas, devolvendo-as à vida. Trata-se de uma imagem eucarística que remete para Cristo e para o seu sacrifício pela salvação da humanidade.